Será a Estimulação Magnética Transcraniana o novo Prozac?
 

Brielle Wellington estava a uma semana de sucumbir à pensão de invalidez devido a dor crônica. Depois de anos estar no circuito dos médicos por ter quebrado sua perna duas vezes enquanto jogava roller derby, ela ficou com dor debilitante e depressão comórbida (ter duas doenças ao mesmo tempo).
 

Desesperada por se livrar da dor que foi agravada de osteomielite (uma infecção do osso) por nove meses, não diagnosticada e depressão associada a ela, tentou tudo aos 28 anos de idade: terapia comportamental cognitiva, injeções de quetamina (droga sintética com efeito analgésico geralmente usada em cavalos), “cada droga” prescrita por especialistas em dor e psiquiatras, e inúmeras dietas.
 

Se sentido como se tivesse sido atingida por uma parede de tijolos, ao pesquisar os últimos ensaios realizados na Universidade de Monash, sua mãe Robyn encontrou a EMT: Estimulação Magnética Transcraniana, um tratamento não-invasivo para a depressão que usa campos magnéticos pulsados para atingir e estimular o córtex do cérebro envolvido na regulação do humor, com efeitos colaterais mínimos. A ativação repetida do córtex pré-frontal esquerdo é comprovada para aliviar a depressão e ajudar os pacientes a aproveitar suas vidas.
 

“A EMT foi um último esforço desesperado”, disse Robyn. “Nós fizemos uma consulta com o psiquiatra e especialista em EMT, Dr. Ted Cassidy. Embora ele tivesse dito que a EMT não era necessariamente para dor, ele já tinha visto funcionar com pessoas que tinham dor. Ele também diagnosticou depressão grave nela”.
 

Após 10 tratamentos de 30 minutos, a Sra. Wellington começou a notar uma mudança.
 

“As coisas como as folhas nas árvores estavam em HD e não eram apenas sombrias, monocromáticas e nebulosas. Essa é a coisa que o problema de saúde mental causa: a menos que esse véu seja levantado, você não tem ideia do que as coisas realmente deveriam ser. Sinto que posso processar as coisas racionalmente e que a vida agora tem um propósito. Se eu tiver um pensamento suicida, será apenas um instante e eu me sentirei calma”.
 

Sua mãe disse que a transformação foi notável. “Ela passou de ser uma pequena senhora curvada, para uma pessoa reta novamente. Ela não está 100 por cento fabulosa, mas de onde ela estava, onde eu tinha que ir todas as manhãs à sua casa, tirá-la para fora da cama e entrar no chuveiro, ela agora tem total independência e ela está ativa”.
 

Tendo trabalhado em psiquiatria desde 1997 e fundado o hospital de saúde mental e o centro médico no noroeste de Sydney, The Hills Clinic, a paixão do Dr. Cassidy foi capaz de tratar muitas pessoas, já que a necessidade era “enorme”. Também, depois de anos tratando pacientes que não iriam melhorar e que via o tempo todo, ele pensou que deveria haver uma maneira melhor de fazer as coisas.
 

“Foi aí que fiquei interessado na ideia de novas maneiras de tratar a depressão, o que abriu minha mente para outras abordagens de tratamento como a EMT, no qual me qualifiquei em 2014. A EMT se tornou uma ferramenta principal e foi aprovada pelo TGA (Therapeutic Goods and Services) em 2007, e a partir de 2015 estava nas diretrizes de tratamento de depressão da Royal Australian e New Zealand College of Psychiatrists (Austrália). Também há pesquisas apoiando a sua eficácia para a reabilitação de acidente vascular cerebral, zumbido, fibromialgia e enxaqueca”.
 

Com uma taxa de resposta de 60-80 por cento e uma taxa de remissão de 35-40 por cento, o Dr. Cassidy disse que, para pacientes com depressão que não respondem a drogas, a EMT é a melhor chance de recuperação deles.
 

“Há três maneiras de estimular as vias de humor positivas com o cérebro se alguém estiver deprimido”, explica o Dr. Cassidy. “Um é com drogas, que fornecem estimulação química através de todo o corpo, o que, infelizmente, cria efeitos colaterais como ganho de peso e disfunção sexual. O segundo é com a ECT (Terapia Eletromecânica Convulsiva), que, ao mesmo tempo que estimula o cérebro com correntes elétricas, também [afeta] tudo mais como memória e atenção. A EMT estimula o cérebro sem dano colateral. O pulso magnético passa através da pele e osso como se eles não existissem para que possa chegar a uma parte do cérebro sem causar danos. É altamente focal.
 

“É importante acrescentar que não precisamos parar a medicação imediatamente. Uma vez que recebemos uma resposta do paciente, será então uma questão de retirada das drogas”.
 

Colleen Loo é professora da Escola de Psiquiatria da Universidade de NSW e professora do Black Dog Institute, que pesquisa estimulação cerebral. Como psiquiatra praticante, a professora Loo administra uma clínica de tratamento em EMT no Black Dog Institute, fornece segundas opiniões sobre novos tratamentos físicos à pacientes que não se deram bem em tratamentos padrões e leciona num curso de treinamento sobre EMT para psiquiatras e profissionais de saúde.
 

Quando perguntada por que alguns psiquiatras ainda acreditam que é “óleo de cobra”, a resposta da professora Loo é decisiva.
 

“Existe evidência padrão de qualidade e qualidade do qual eu presidi em 2013, que a EMT é eficaz no tratamento da depressão. Os testes que estamos fazendo agora são de melhorar o tratamento atual”.
 

“Nosso próximo passo é como obter financiamento para este tratamento, já que não é financiado pela saúde privada ou convênios”, disse ela. “Os pacientes têm que cobrir o custo e é caro. São US$ 160 por sessão com um tratamento típico de 20-30 sessões, que está entre US$ 3000 a US$ 5000. Uma das coisas tristes é quando pensamos que seria útil para um paciente, mas ele não consegue pagar. O governo está financiando terapias alternativas, que têm uma pesquisa menos baseada em eficácia, então eles deveriam olhar para a EMT”.
 

O veterano de guerra Keith Pearse, de 53 anos, havia trabalhado na marinha em submarinos há 25 anos antes de ter sido dispensado por doença aos 46 anos, com depressão crônica, ansiedade profunda, paranoia e transtorno de estresse pós-traumático crônico (TEPT).
 

Hiper aleta e super estressado, ele não podia sentar-se num café, a menos que ele tivesse de costas para a parede, observando tudo. Alcançando o nível máximo dos quatro medicamentos em que ele estava usando, 18 meses atrás, ele foi encaminhado para experimentar a EMT, que poderia pagar, já que o Departamento de Assuntos de Veteranos (DVA) financia as 30 primeiras sessões.
 

“Eu fiz a EMT cinco dias por semana durante seis semanas. Mesmo tendo a sensação de um “pica-pau” tocando a cabeça, eu achava relaxante. Por alguns meses depois do primeiro tratamento, eu estava menos mal-humorado, menos agitado e menos ansioso. Tive que me mudar para cá, no Gold Coast e, infelizmente, aqui não há clínicas de EMT. Eu já não faço EMT há 15 meses e os efeitos desapareceram. Mas eu faria de novo num piscar de olhos”.
 

Tendo a disponibilidade e o custo como um obstáculo, o Dr. Cassidy disse que a Austrália está atrás de outros países. “Não há praticamente nenhuma diretriz no mundo em que a EMT não está na orientação para a depressão. Uma clínica em Tóquio tem 75 máquinas operando sete dias por semana. Temos menos de 1000 pessoas na Austrália fazendo EMT por ano, mesmo com o aumento nos serviços ambulatoriais nos últimos três anos, houve um aumento de 50% nas pessoas que querem o tratamento.
 

Quanto a senhora Wellington, ela atualmente está livre de medicação e em um programa de manutenção de EMT de uma sessão por quinze dias.
 

“Tenho sorte de que meus pais puderam pagar para eu fazer o tratamento. Estou muito feliz por ser um membro contribuinte da sociedade ao invés de ir contra isso”.
 

Sua mãe, Robyn, disse: “Conhecemos pessoas em situação similar que se beneficiariam muito, mas não podem pagar e agora estão na pensão por invalidez. Meu objetivo agora é pressionar o convênio a disponibilizar isso”.
 

O Dr. Cassidy comparou a eficácia do tratamento com uma pílula química bem conhecida.
 

“É emocionante ver as pessoas que responderem dizendo que não tiveram resultados de nenhum tratamento em 20 anos. O Prozac foi o novo avanço médico em 1989 e não houve nada de verdadeiramente novo desde então. Não há novas classes de drogas chegando, mas a EMT faz parte de um novo campo excitante de estimulação cerebral. Acredito que este é o próximo Prozac“.
 

Por Georgia Cassimatis, 19 de Novembro de 2017
Tradução livre do texto original em inglês do site The Sidney Morning Herald