depressão resistente

A estimulação cerebral alivia pensamentos suicidas em depressão resistente

Por Traci Pedersen
 

Um tipo específico de estimulação cerebral não invasiva, conhecida como EMTr (estimulação magnética transcraniana repetitiva), pode reduzir o pensamento suicida em uma parcela significativa de pessoas com depressão difícil de tratar, de acordo com um novo estudo publicado no Journal of Clinical Psychiatry.
 

De fato, 40% dos participantes do estudo que foram submetidos a EMTr bilateral relataram que não estavam mais tendo pensamentos suicidas. A estimulação cerebral funciona direcionando pulsos magnéticos em áreas específicas do cérebro.
 

O pensamento suicida é um sintoma comum entre pessoas com uma variedade de transtornos mentais, como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtorno bipolar, esquizofrenia e transtorno de personalidade borderline. Estima-se que cerca de 90% das pessoas que morrem por suicídio têm uma doença mental.
 

As novas descobertas dão esperanças de que, após mais evidências, a EMTr pode oferecer uma nova maneira de prevenir o suicídio em pessoas com depressão de difícil tratamento, bem como outras doenças mentais.
 

“Este é um dos primeiros grandes estudos mostrando que a EMTr é eficaz no tratamento de ideação suicida. Os efeitos sobre a ideação suicida foram independentes dos efeitos sobre os sintomas depressivos”, disse o Dr. Jeff Daskalakis, autor do estudo.
 

Embora os medicamentos e a psicoterapia funcionem para muitas pessoas com doença mental, ainda há uma necessidade urgente de novos tratamentos que consigam reverter rapidamente e especificamente pensamentos suicidas.
 

“Um dos únicos tratamentos eficazes para a ideação suicida é a eletroconvulsoterapia ou ECT”, disse Daskalakis, co-diretor do Centro Temerty de Intervenção Terapêutica Cerebral (Temerty Centre for Therapeutic Brain Intervention), do Centro de Dependência e Saúde Mental (CAMH – Centre for Addiction and Mental Health) em Toronto, no Canadá.
 

“Embora a ECT seja o tratamento mais eficaz nos cuidados psiquiátricos, raramente é usada, devido ao alto estigma e aos efeitos colaterais cognitivos adversos associados ao tratamento (veja aqui o Comparativa das Abordagens Terapêuticas Psiquiátricas). Menos de 1% dos pacientes com depressão difícil de tratar ou resistente a tratamento recebem ECT”.
 

A depressão resistente ao tratamento é definida como a condição em que as pessoas não experimentam uma melhora notável em seus sintomas depois de tentar pelo menos dois medicamentos antidepressivos diferentes.
 

Até 40% das pessoas com depressão são resistentes ao tratamento. Estudos anteriores do CAMH mostraram que a EMTr é uma terapia eficaz para a depressão resistente ao tratamento.
 

Para o novo estudo, os pesquisadores analisaram dados de dois estudos anteriores do CAMH sobre a EMTr aplicadas às pessoas com depressão resistente ao tratamento. No início desses estudos, 156 pessoas disseram que experimentaram um pensamento suicida.
 

Para a nova pesquisa, a EMTr foi aplicada ao córtex pré-frontal dorsolateral do cérebro, uma região nos lobos frontais, cinco vezes por semana, durante três ou seis semanas. Os participantes foram randomizados para receber EMTr de uma destas três maneiras: para ambos os lobos frontais direito e esquerdo (EMTr bilateral), somente lobo frontal esquerdo (EMTr unilateral), ou como um grupo de comparação, EMTr simulada, que é semelhante a um placebo.
 

A EMTr bilateral foi a mais eficaz dos três tipos. Um total de 40% das pessoas que receberam EMTr bilateral relataram que não mais experimentavam pensamentos suicidas até o final do período do estudo.
 

Em comparação, 27% daqueles que passaram por EMTr unilateral e 19% daqueles que receberam EMTr simulada não experimentaram mais pensamentos suicidas. Além disso, a EMTr bilateral foi a mais eficaz na prevenção do desenvolvimento de pensamentos suicidas em pessoas que não estavam tendo pensamentos suicidas no início do estudo.
 

Assim, embora a EMTr unilateral esquerda seja o tipo mais comum, as descobertas sugerem que atingir o lobo frontal direito pode ser fundamental para o tratamento do pensamento suicida, disse o primeiro autor e residente em psiquiatria, Dr. Cory Weissman do Centro Temerty de Intervenção Terapêutica Cerebral.
 

Estudos anteriores em pessoas com depressão e ideação suicida mostraram que esta região do cérebro pode estar ligada à impulsividade e às dificuldades de regular as emoções. No futuro, os pesquisadores planejam se concentrar no lobo frontal direito.
 

Surpreendentemente, a redução no pensamento suicida não estava fortemente ligada a uma diminuição na gravidade dos sintomas de depressão.
 

“Isso sugere que o suicídio não é necessariamente apenas um sintoma de depressão – pode estar relacionada, mas separada”, disse Weissman.
 

Como o pensamento suicida é conhecido por ocorrer em vários transtornos mentais, a identificação de um tratamento eficaz pode prevenir o suicídio em um amplo espectro de pessoas com doenças mentais.
 

Fonte: Centre for Addiction and Mental Health
Tradução livre do texto original em inglês do site Psych Central