Tratamento para autismo com EMT

Tratamento EMT para autismo: o que é e como funciona?

Por Yolande Loftus, BA, LLB
 

Falar sobre EMT ou estimulação magnética transcraniana, está aumentando as esperanças dos pais que perguntam se o tratamento poderia funcionar para seus filhos com transtorno do espectro autista (TEA).
 

Os pais com filhos desse espectro desconfiam do termo “cura”. Para alguns, é porque ficaram desapontados com a falsa esperança, mais do que gostariam de se lembrar; para outros, o termo “cura” parece mais adequado a uma doença. Quando você conversa com pais de crianças nesse espectro, a maioria está disposta a fazer qualquer coisa para ajudar seus filhos a prosperar, abraçando firmemente quem ele/ela é.
 

E, no entanto, mesmo os adultos autistas que celebram a bela diferença de suas mentes, admitem que certos sintomas associados ao autismo criam dificuldades na vida cotidiana. Por exemplo, aqueles que estão no espectro geralmente têm problemas com situações sociais e de comunicação. Enfrentar esses desafios de uma forma que envolva quem a criança é, mas modifique o comportamento para tornar a vida mais fácil, parece uma meta digna (e elevada!).
 

Alguns veem a estimulação magnética transcraniana (EMT) como um tratamento digno de otimismo. Embora os pesquisadores recomendem cautela, os estudos sugerem potencial diagnóstico e terapêutico (Oberman et al., 2016).
 

O que é EMT?
EMT ou estimulação magnética transcraniana, é um tratamento que direciona pulsos de energia magnética recorrentes em regiões específicas do cérebro envolvidas no controle do humor. A definição parece um pouco assustadora – energia ou pulsos magnéticos entrando no cérebro trazem imagens de enfermarias psíquicas desumanas em filmes de terror. Mas, na verdade, o tratamento não é invasivo, com muito pouco desconforto e tem ajudado muitos pacientes com depressão debilitante.
 

A terapia (ou tratamento) EMT usa pulsos curtos de campos magnéticos para estimular as células nervosas em áreas específicas do cérebro, como o córtex pré-frontal, que está envolvido na regulação do humor.
 

Ao mencionar a EMT, as pessoas estão mais familiarizadas com seu potencial como tratamento para o transtorno depressivo maior, mas seus benefícios terapêuticos também estão sendo investigados para outras condições. A este respeito, os pesquisadores acreditam que a EMT pode possivelmente aliviar os sintomas associados ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno do espectro autista (TEA), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (PTSD).
 

Como funciona?
Quando alguém é submetido a EMT, a pessoa que está administrando (geralmente um psiquiatra, médico ou às vezes um psicólogo clínico) encosta um dispositivo no lado esquerdo da cabeça do paciente e inicia o processo de direcionar os campos magnéticos para o cérebro com o toque de um botão.
 

Esses campos magnéticos produzem minúsculas correntes magnéticas à medida que se movem para o cérebro. As correntes ativam as células para liberar neurotransmissores como serotonina e dopamina. A liberação desses mensageiros químicos do bem-estar pode restaurar o equilíbrio do cérebro, o que pode trazer alívio para quem sofre de depressão.
 

Como os indivíduos com autismo podem ter baixas concentrações de serotonina no cérebro (Ademsen et al., 2014), não é de se admirar que os pesquisadores vejam uma promessa no tratamento para aqueles com transtorno do espectro autista (TEA).
 

Praticamente falando
A maioria dos médicos afirma que as sessões que duram entre 30-40 minutos são as melhores, com uma recomendação de 30 sessões ao longo de seis semanas. Os pacientes geralmente sentem alívio (como uma elevação no humor) duas a quatro semanas após o início do tratamento. Embora a EMT seja aprovada pelo FDA, esta autorização se aplica à administração em adultos (entre 18 e 70 anos) e apenas para depressão grave que não responde a outros medicamentos – a autorização do FDA agora se aplica a outras condições como o TOC também. Portanto, se uma criança for submetida ao tratamento para autismo, será considerado “off-label”.
 

A EMT é um tratamento adequado à crianças?
Ainda que a EMT possa parecer boa em teoria, os pais estão obviamente preocupados com qualquer tipo de terapia administrada ao cérebro de seus filhos. No entanto, um estudo (Yang et al., 2019) relatou uma redução significativa nos sintomas sociais e relacionados à linguagem depois que crianças com TEA foram submetidas a cursos de tratamento de estimulação magnética. O estudo também relatou possíveis melhorias na cognição e imitação, conforme relatado pelos cuidadores. O estudo foi promissor na EMT para melhorar os déficits básicos em crianças com TEA de baixo funcionamento.
 

Mesmo que as sugestões de sucesso sejam animadoras, os pais também querem garantias de que o tratamento não terão efeitos colaterais graves. Além disso, os pais podem se perguntar sobre o nível de desconforto e as implicações sensoriais da terapia.
 

Como mencionado, muitas pesquisas ainda são necessárias em termos da aplicação e dos efeitos colaterais da EMT, especialmente quando administrada em crianças nesse espectro. Nesse ínterim, estudos relativos aos efeitos da EMT em crianças neurotípicas (não autistas) podem ser uma fonte apropriada.
 

Em um estudo de Krishnan et al. (2014), técnicas de estimulação cerebral não invasiva, como a EMT, foram examinadas para avaliar a segurança do tratamento quando administrado a crianças e adolescentes.
 

O estudo concluiu que a EMT repetitiva é segura em crianças e adolescentes quando as diretrizes de segurança foram seguidas. Quando os efeitos colaterais estavam presentes, pareciam semelhantes aos efeitos colaterais experimentados por adultos. De 513 das crianças (ou adolescentes) envolvidos no estudo, 11,5% experimentaram dores de cabeça, 2,5% sentiram desconforto no couro cabeludo, 1,2% experimentaram espasmos e uma porcentagem muito pequena experimentou mudanças de humor, fadiga e zumbido (Krishnan et al., 2014).
 

Ao olhar para evidências anedóticas de dor e desconforto experimentados, ao se submeter ao tratamento com EMT, o veredicto parece positivo. O tratamento geralmente é bem tolerado e alguns sentem que a ausência de efeitos colaterais graves o tornam uma ótima alternativa para pessoas sensíveis à medicação.
 

Os pais devem, no entanto, estar cientes de relatos de pacientes que sentem dor, especialmente no local da estimulação. Croarkin et al. (2011) detalhou a dor sentida (durante a administração de EMT) por duas crianças de 10 anos e um adolescente de 17 anos. O jovem de 17 anos mencionou que a dor parecia uma “dor de cabeça, com uma espécie de enxaqueca atrás dos olhos”.
 

Esse alto nível de dor experimentado pode ser raro, mas os pais de crianças com TEA devem estar cientes do pior cenário, especialmente quando crianças com dificuldades sensoriais, como defesa tátil, estão envolvidas.
 

Um aspecto da EMT que provavelmente precisa de mais investigação, especialmente para crianças com autismo, é o risco de convulsões. Como as crianças com autismo também têm uma chance maior de serem diagnosticadas com epilepsia, essa preocupação deve ser abordada com um profissional qualificado antes de decidir sobre a adequação com EMT.
 

Stultz et al. (2020) produziu uma revisão da literatura sobre a segurança da estimulação magnética com relação a convulsões e menciona que a EMT foi usada com sucesso em pacientes com epilepsia e lesões cerebrais traumáticas. É ainda mencionado na revisão que as convulsões são um efeito colateral raro, mas o risco pode ser baixo em menos de um por cento.
 

EMT melhor?
Pode haver mais boas notícias, pois um novo tratamento combina EMT com Eletroencefalograma Quantitativo (qEEG) e Eletrocardiograma (ECG / EKG) para fornecer um tratamento personalizado para o padrão cerebral exclusivo do paciente.
 

O fato desse protocolo personalizado, conhecido como Terapia de e-Ressonância Magnética (MeRT), verificar os padrões cerebrais do indivíduo, significa que um maior sucesso pode ser alcançado na restauração de desequilíbrios químicos.
 

Mais pesquisas são necessárias
Os especialistas concordam que, embora o EMT e especificamente o MeRT pareçam promissores, pesquisas são urgentemente necessárias para estabelecer a eficácia e os efeitos de longo prazo do tratamento. Os pesquisadores estão esperançosos de que estudos futuros encontrarão provas de que EMT e MeRT são eficazes no tratamento de certos sintomas de TEA, como deficiências sociais e de linguagem.
 

A jornada com EMT de Kim Hollingsworth Taylor (fundadora da Fundação Clearly Present) tornou-se um conto de advertência na internet para os altos e baixos extremos que ela experimentou quando seu filho foi submetido a EMT. O tratamento aliviou alguns dos sintomas de autismo de seu filho, mas apenas temporariamente. Isso apenas destaca o fato de que mais pesquisas são necessárias, especialmente em relação aos resultados de longo prazo da EMT.
 

E por fim
Quando um estudo (Sokhadze et al. 2018) lista melhorias significativas nas medidas de funções de execução e comportamento em crianças com autismo, os pais podem, com razão, experimentar uma onda de esperança. No entanto, os pesquisadores pedem cautela já que a única coisa com a qual parecem concordar é que muitos mais ensaios clínicos e estudos são necessários para estabelecer a eficácia da EMT para os principais sintomas de TEA.
 

Se você leu a pesquisa e acredita que seu filho pode se beneficiar com a EMT ou MeRT, a melhor ação seria consultar seu médico ou psiquiatra. Esses profissionais médicos levarão em consideração o histórico médico do seu filho (e condições como epilepsia) antes de ajudá-lo a decidir se é a conduta correta de ação para o seu filho.
 

Referências:
Adamsen, D., Ramaekers, V., Ho, H.T. et al. (2014). Autism spectrum disorder associated with low serotonin in CSF and mutations in the SLC29A4 plasma membrane monoamine transporter (PMAT) gene. Molecular Autism 5, 43. https://doi.org/10.1186/2040-2392-5-43
 

Coarkin, P. E., Wall, C. A., King, J. D., Andrew Kozel, F., & Daskalakis, Z. J. (2011). Pain during transcranial magnetic stimulation in youth. Innovations in clinical neuroscience, 8(12), 18–23.
 

Krishnan, C., Santos, L., Peterson, M. D., & Ehinger, M. (2015). Safety of noninvasive brain stimulation in children and adolescents. Brain stimulation, 8(1), 76–87. https://doi.org/10.1016/j.brs.2014.10.012.
 

Oberman, L. M., Rotenberg, A., & Pascual-Leone, A. (2015). Use of transcranial magnetic stimulation in autism spectrum disorders. Journal of autism and developmental disorders, 45(2), 524–536. https://doi.org/10.1007/s10803-013-1960-2
 

Sokhadze, E. M., Lamina, E. V., Casanova, E. L., Kelly, D. P., Opris, I., Tasman, A., & Casanova, M. F. (2018). Exploratory Study of rEMT Neuromodulation Effects on Electrocortical Functional Measures of Performance in an Oddball Test and Behavioral Symptoms in Autism. Frontiers in systems neuroscience, 12, 20. https://doi.org/10.3389/fnsys.2018.00020
 

Stultz DJ, Osburn S, Burns T, Pawlowska-Wajswol S, Walton R. Transcranial Magnetic Stimulation (EMT) Safety with Respect to Seizures: A Literature Review. Neuropsychiatr Dis Treat. 2020;16:2989-3000 https://doi.org/10.2147/NDT.S276635.
 

Yang, Y., Wang, H., Xue, Q., Huang, Z., & Wang, Y. (2019). High-Frequency Repetitive Transcranial Magnetic Stimulation Applied to the Parietal Cortex for Low-Functioning Children With Autism Spectrum Disorder: A Case Series. Frontiers in psychiatry, 10, 293. https://doi.org/10.3389/fpsyt.2019.00293.
 

Tradução e adaptação livre do texto original em inglês do site Autism Parenting Magazine
Publicado em 30 de abril de 2021.