O Uso da Estimulação Magnética Transcraniana Durante a Gravidez: Relato de Caso

Cohen, Roni Broder; Ferreira, Mérari Jizar Lavander

Centro Brasileiro de Estimulação Magnética Transcraniana – CBrEMT
 

INTRODUÇÃO

Os Transtornos de humor no pós-parto são relativamente comuns, ocorrendo em mais de 20% das mulheres (Campbell e Cohn, 1991). Estes transtornos têm um impacto significativo nos recém-nascidos, pois podem afetar o binômio mãe-filho, com possíveis consequências no desenvolvimento destas crianças (Payne, 2007). A maioria das drogas neuropsiquiátricas passa para o leite materno. Dada a importância da amamentação nos primeiros 6 meses de vida, novos tratamentos não prejudiciais para o recém-nascido são necessários. A Estimulação Transcraniana Magnética Repetitiva (EMTr) até o presente momento tem sido efetiva para o tratamento da mãe, sem afetar o concepto. Descrevemos um caso em que a sua aplicação foi eficaz no controle de episódio misto no período pós-parto, evitando o uso de farmacoterápicos.

 

CASO

  • 32 anos, farmacêutica, diagnóstico de depressão recorrente em comorbidade com transtorno de ansiedade há 9 anos, em uso de amitriptilina (225mg/dia) e clonazepam (3mg/dia)
  • Teve gestação a termo há 2 anos, onde houve necessidade de aumento de antidepressivos por agravamento do quadro
  • Sucessivas tentativas de redução dos fármacos cursavam com recidiva de insônia grave e sintomas depressivos
  • Desejo intenso de interromper medicações e engravidar motivaram sua médica a encaminhar para nosso serviço
  • Escores basais: HAM-D (17-itens) = 10 e Beck=12
 

MÉTODO

  • Paciente submetida ao tratamento com 20 sessões de EMT (1Hz, 1600 pulsos/dia, 100% do limiar motor) sobre o córtex pré-frontal direito, três vezes por semana.
  • Houve retirada progressiva dos fármacos a partir da 3ª sessão, interrompendo-os totalmente na 10ª sessão.
  • Após 1 mês do término da 1ª fase do tratamento engravidou. Reiniciou o tratamento, com 3 sessões por semana, até completar 21 semanas de gestação. Procedeu-se manutenção 1 X/semana até o 7º mês.
 

RESULTADOS

Melhora significativa dos sintomas ansiosos e depressivos; na 20ª sessão de EMT: HAM-D=4, Beck=5 (gráfico 1). Manteve-se estável durante 1º e 2º trimestre da gestação, sem oscilações nas escalas até a última aplicação (gráfico 2). A partir do 7º mês sua médica prescreveu amitriptilina 75mg/dia. Gestação a termo, parto normal sem intercorrências. Apgar no 1º e 5º minutos foram 9 e 10, respectivamente.

 

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

A EMT mostrou-se uma técnica eficaz para a retirada de medicação anterior à gestação em uma paciente por nós tratada, consistindo assim em uma possível terapêutica em pacientes que desejam engravidar. A EMT possui alta tolerabilidade e baixa incidência de efeitos colaterais (tabela 1), facilitando seu uso nessa fase. Uma casuística maior através de ensaios clínicos pode corroborar os achados deste estudo.