Estudo sugere que a EMT pode reduzir a progressão do Alzheimer
Por TMS Brasil. Nov, 2024.
Até o momento, o tratamento da doença de Alzheimer limita-se a medicamentos com eficácia restrita e risco de efeitos colaterais graves, algumas vezes fatais. Por essa razão, cientistas buscam novas terapias que possam interromper a progressão da doença, especialmente aquelas que não envolvem medicação.
Um estudo preliminar sugere que uma terapia experimental pode retardar a progressão dos sintomas. A técnica envolve o uso de um dispositivo de Estimulação Magnética Transcraniana (EMT), amplamente utilizado no tratamento seguro da depressão e de outros transtornos mentais. Os pesquisadores conseguiram usar o dispositivo para estimular uma rede cerebral crucial para o armazenamento de memórias, frequentemente afetada pela doença de Alzheimer, conforme relatado no encontro Clinical Trials on Alzheimer’s Disease, realizado em Madri.
O estudo mostrou que, ao direcionar a EMT para áreas específicas do cérebro, foi possível retardar sintomas como perda de memória, em comparação com um tratamento placebo. Na doença de Alzheimer, células nervosas no cérebro começam a apresentar disfunções, levando a sintomas debilitantes de perda de memória. Pesquisas anteriores indicaram que o acúmulo das proteínas beta-amilóide e tau prejudica a capacidade dos neurônios de formar e manter novas conexões, explicou o Dr. Giacomo Koch, professor de Fisiologia Humana na Universidade de Ferrara e cofundador da Synaptica, uma empresa sediada em Cambridge, Massachusetts, que está desenvolvendo essa terapia.
“O objetivo é restaurar a conectividade entre os neurônios, aumentando a atividade em certas áreas relevantes para a doença”, disse Koch em entrevista. “Esta terapia é como um treinamento para os neurônios.” A ideia é que, assim como o exercício fortalece os músculos, os sinais elétricos gerados pela EMT possam aumentar a capacidade dos neurônios de se conectarem entre si.
Nos Estados Unidos, cerca de 6,9 milhões de pessoas vivem com Alzheimer, e esse número pode dobrar até 2060, segundo a Associação de Alzheimer. O novo estudo, um ensaio clínico de fase 2, acompanhou 32 voluntários com Alzheimer entre 56 e 88 anos durante 52 semanas, sendo 16 deles mulheres. Inicialmente, os pesquisadores identificaram a localização exata da rede cerebral envolvida no armazenamento de memórias de eventos de vida, utilizando a EMT para estimular essa região. Esse procedimento cria uma propagação de sinais pela rede, semelhante às ondas geradas ao lançar uma pedra em um lago.
Dezoito voluntários receberam sessões semanais de EMT de 20 minutos, enquanto 14 receberam um tratamento placebo, em que o dispositivo não era ativado, a fim de controlar o efeito placebo. Koch ressaltou que a EMT é tolerável e segura, já que gera correntes elétricas fortes no cérebro sem a necessidade de corrente direta, o que seria doloroso.
Os efeitos colaterais observados foram leves e incluíram tontura, desconforto na pele e dor no pescoço. Ao comparar os grupos com testes cognitivos, os pesquisadores observaram que a taxa de progressão dos sintomas foi 44% mais lenta nos pacientes que receberam a EMT.
Para efeitos comparativos, dois medicamentos recentemente aprovados para Alzheimer, lecanemabe e doatemabe, mostraram retardar a perda de memória em cerca de 27,1% e 22,3%, respectivamente, mas envolvem infusões de anticorpos monoclonais e têm custo elevado, além do risco de efeitos graves como edema cerebral e micro-hemorragia.
Durante o estudo de EMT, que durou um ano, os participantes do grupo experimental mantiveram uma boa capacidade de realizar atividades diárias, o que beneficia tanto os pacientes quanto seus cuidadores, de acordo com Koch. Agora, os pesquisadores estão planejando um ensaio clínico de fase 3, que exigirá aprovação da FDA.
Para a Dra. Irina Skyler-Scott, neurologista e professora no Centro de Distúrbios de Memória da Universidade de Stanford, o estudo é promissor. “Como área, estamos todos animados com novos tratamentos que fortaleçam conexões nas áreas do cérebro que controlam a memória.” O próximo passo é um ensaio multicêntrico para avaliar a eficácia em larga escala, afirmou Skyler-Scott, que não participou do estudo.
Porém, o Dr. Lawrence Honig, professor de neurologia no Centro Médico da Universidade de Columbia, ressaltou que os resultados ainda são preliminares. Embora os resultados iniciais sejam positivos, ele sugere que estudos futuros incluam biomarcadores, como exames de sangue e imagens cerebrais, para identificar se há, de fato, uma melhora na doença, como a redução das proteínas tau e amiloide.
O Dr. Ryan Darby, professor e diretor da Clínica de Demência Frontotemporal no Centro Médico da Universidade de Vanderbilt, também considera a ideia inovadora, mas menciona que é necessário validar se a abordagem poderá ser amplamente adotada em outros centros.
Leitura sugerida:
Alzheimer’s researchers say brain stimulation device may slow symptoms (NBC News)
Targeted Magnetic Stimulation Slows Alzheimer’s Progression in Phase II Study (MedPage Today)