Estimulação cerebral para pessoas com transtorno por uso de cannabis e esquizofrenia
Por Medical Cannabis Network
Um novo estudo descobriu que a estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr) beneficia indivíduos com transtorno por uso de cannabis e esquizofrenia, reduzindo a ingestão em até 60%.
O transtorno por uso de cannabis é um diagnóstico dado para o uso problemático de maconha. Foi introduzido no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª Edição. Acredita-se que afete cerca de 10% dos 193 milhões de usuários de cannabis no mundo. Os sintomas do transtorno por uso de cannabis incluem o desejo de cannabis e uso contínuo, apesar de problemas físicos, psicológicos, sociais ou de relacionamento.
O estudo concentrou-se em saber se havia uma associação entre EMTr e uma redução no uso autorrelatado de cannabis entre indivíduos diagnosticados com transtorno por uso de cannabis e esquizofrenia.
Os resultados foram publicados pelo Centro de Dependência e Saúde Mental (Centre for Addiction and Mental Health – CAMH) na revista NPJ Schizophrenia.
Estimulação cerebral em consultórios médicos
O estudo duplo-cego é o primeiro de seu tipo a investigar a eficácia da EMTr no tratamento do transtorno por uso de cannabis em pessoas com esquizofrenia e foi apoiado pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA (NIDA) e pela Fundação CAMH.
“Pessoas com esquizofrenia têm taxas muito altas de transtorno por uso de cannabis em comparação com a população em geral, e há fortes evidências de que o uso de cannabis piora os sintomas psiquiátricos e a qualidade de vida dessas pessoas”, disse o médico-cientista do CAMH, Dr. Tony George. “Apesar dos efeitos nocivos conhecidos, atualmente não há tratamento aprovado para transtorno por uso de cannabis com ou sem esquizofrenia. Esses resultados indicam que a EMTr pode ser uma maneira segura e eficaz de reduzir a cannabis entre pessoas com esquizofrenia”.
Tecnologias de estimulação cerebral como a EMTr já são utilizadas para depressão resistente ao tratamento. No entanto, novos desenvolvimentos descobriram que a EMTr é eficaz na redução do uso de drogas e desejos por vários transtornos por uso de substâncias na população em geral.
Investigando indivíduos com transtorno por uso de cannabis e esquizofrenia
Para conduzir o estudo, os participantes receberam tratamento de EMTr no Temerty Center for Therapeutic Brain Intervention do CAMH, cinco vezes por semana durante quatro semanas. A técnica de estimulação cerebral teve como alvo o córtex pré-frontal dorsolateral (DLPFC), que está intimamente associado ao sistema de recompensa e à função executiva do cérebro.
Os participantes que receberam EMTr relataram uma redução no uso de cannabis em até 60% após 28 dias, bem como desejos reduzidos, em comparação com os controles que receberam EMTr simulada.
Os autores afirmaram que uma das razões pelas quais atualmente não há tratamento eficaz para o transtorno por uso de cannabis em pessoas com esquizofrenia é porque pessoas com esquizofrenia ou outras doenças mentais geralmente são excluídas dos ensaios clínicos de transtorno por uso de cannabis.
O Dr. George comentou que o CAMH está posicionado de forma única para fazer esse tipo de pesquisa: programas de tratamento de dependência de última geração. Todos esses fatores fazem do CAMH um dos poucos lugares do mundo que podem conduzir um estudo como este”.
“Foi um estudo difícil de recrutar, dada a intensidade do compromisso de tempo exigido pelos pacientes”, disse a principal autora do estudo, Karolina Kozak Bidzinski. “No entanto, a consciência que os pacientes tinham dos efeitos negativos que a cannabis estava causando em suas vidas, os benefícios esperados de reduzir seu uso e perceber os vários resultados positivos que surgiriam ao longo da duração do estudo permitiram que um número tão alto de pacientes concluísse o teste. Felizmente, este trabalho abre caminho para mais pesquisas para investigar os efeitos da EMTr como tratamento para o transtorno do uso de cannabis em pessoas com esquizofrenia”.
Tradução e adaptação livre do texto original em inglês do site Health Europa
Publicado em 9 de março de 2022